Tenho ataque de pelancas quando quero me lembrar de algo e não consigo. Não sei se mais alguém compartilha desse sentimento, mas, eu sou daquelas que precisa esquecer para lembrar. Sim, isso mesmo, esquecer para lembrar. Se ficar insistindo, martelando, procurando, ah, mas não lembra mesmo. Se aumentar o rádio, pensar naquele filme, engatar uma conversa, bingo! Se dou um descanso para ele e deixo ele trabalhar em segundo plano, vai que é uma beleza. Se há pressão, prazo, cobrança, uma hora sai, mas demora muito. E bate aquele desespero. E o que já estava difícil fica quase impossível porque você sobrecarrega seu cérebro de side jobs, mas eu acho que ao longo desses anos eu o-treinei muito bem, pois, uma hora vem. Funciono por associações, vai entender o cérebro. Minha mãe faz palavras cruzadas e sudoku. Vejo determinada estrutura que não era exatamente o objetivo de busca daquele exame microscópico. Lembro que é um fungo, mas não é essa a terminologia que uso habitualmente. Não está errado, mas, não é essa. Lembro que é uma terminologia usada para classificar outro fungo, que habita outro lugar. “Tinha alguma coisa a ver com cerveja...”. Pensa, pensa, pensa. Levedura!
Tenho medo de começar a esquecer. Para mim esse é um dos sinais cardeais da velhice. Velhice mental. Não estou falando de nada degenerativo, estou falando de ausência de palavras mesmo, falta de vocabulário, esquecimento dos sinônimos, antônimos, acepções. Daquele tipo em que você se pega usando diariamente as mesmas expressões, as mesmas palavras, para as mais diversas situações diárias. Nossa língua tem pouco mais de 300.000 palavras. Quantas você usa diariamente? Quando usa emprega corretamente? Nunca chequei, mas já me disseram que só o português permite a mesóclise. Aquela do Jânio, “come-lo-ia”, lembra? Você usou esse recurso hoje? Semana passada? Esse ano? Acho difícil. Eu não usei.
*partiu*
*pegou A Jangada de Pedra na estante*